Com madeira, cal e terra, diferentes povos desenvolveram seu próprio tipo de construção.
A sua casa foi construída por arquitetos? Em boa parte do Brasil, toda a construção — que vai desde os móveis de cozinha até a estrutura em si da residência — foi feita de maneira independente, com um aprendizado vindo de gerações ou compartilhado entre vizinhos. Esta é a chamada arquitetura vernacular.
Com materiais simples, encontrados localmente, a arquitetura vernacular se desenvolveu e foi passada entre gerações. Entenda mais sobre esse tipo de construção, bem como as mais conhecidas no Brasil.
O que é arquitetura vernacular?
Como dito anteriormente, é uma arquitetura que não foi desenvolvida por arquitetos, mas que faz parte de um conhecimento local. Apesar de ser a cara do Brasil, essa modalidade de construção pode ser encontrada no mundo inteiro.
Segundo o arquiteto e autor Rubenilson Brazão Teixeira (2017), arquitetura vernacular é uma junção de tradição local, pois alia a passagem do tempo a um conhecimento herdado por gerações, e contextualização (condições climáticas, vegetação e topografia da região). Para alguns especialistas, a arquitetura vernacular pode ser chamada de “popular” ou “espontânea”, justamente por não ter a supervisão de um profissional e, por isso, não ter planejamento.
A arquitetura vernacular está intrinsecamente ligada à tecnologia precária e aos recursos disponíveis na região. Isso porque essa tecnologia não está ligada apenas aos materiais em si, mas ao transporte, logística e comunicação. Portanto, os construtores utilizam aquilo que é acessível e abundante — galhos, argila, terra, cascalho e cal, por exemplo.
Sustentabilidade
As condições tornam a arquitetura vernacular sustentável, já que ela utiliza materiais em sua maioria naturais, reutiliza sobras, não agride o meio ambiente e gera economia de energia, além de proporcionar conforto térmico e acústico nas edificações.
Em locais de clima seco e quente, por exemplo, as fachadas costumam ser de cor clara (que reflete a luz solar e traz mais frescor) e ter pequenas aberturas para a circulação de ar. Já em regiões de clima frio, as edificações costumam ser próximas umas das outras. Além disso, suas fachadas têm aberturas amplas apenas onde há mais incidência de luz solar.
Arquitetura vernacular pelo mundo
Pode não parecer, mas a arquitetura vernacular é mais comum do que parece — ela provavelmente pode ser vista no seu trajeto ao trabalho, por exemplo. Conheça alguns exemplos:
Palafitas
Construções feitas próximas ao litoral, as palafitas são casas erguidas em cima de estacas de madeira, pois ficam acima de locais alagadiços — margens de rios e lagos, por exemplo. Como são muito finas, não são capazes de aquecer. Por isso, são muito comuns em locais quentes e úmidos, como a Baixada Fluminense, Amazônia, Bahia e litoral paulista. As palafitas são construções milenares, com registros entre os anos 5000 a 1800 a.C., em locais do planeta inteiro — Sudeste Asiático e Europa, por exemplo.
Barraco
É o nome dado às diferentes construções vernaculares feitas em favelas e comunidades periféricas. Apesar de diversas construções da arquitetura vernacular serem indicativas de desigualdade social, o barraco é a mais conhecida.
Barracos são comumente associados a barrancos, encostas e morros, mas também podem ser erguidos em terrenos planos e com basicamente qualquer material que esteja disponível, como vigas de madeira, papelão e telhas. Mas, no Brasil, costumam ser construídas de alvenaria sem reboco.
Pau a pique
Também conhecida como taipa de mão, de sopapo ou de sebe, a casa de pau a pique é uma construção tipicamente brasileira, mas que chegou ao Brasil com os povos africanos. Nesta construção, as estacas de madeira são entrelaçadas e fixadas ao solo. Para formar uma parede, elas recebem bambus cruzados perpendicularmente e estes são entrelaçados com cipó. Os vãos entre a madeira e o cipó recebem barro.
A casa de pau a pique é um exemplo de arquitetura vernacular que se modernizou. Como as madeiras apodrecem rapidamente, elas recebem uma base de pedra que as deixa de 50 a 60 cm acima do solo. Além disso, as amarrações são feitas com fibra vegetal e arame galvanizado, garantindo maior durabilidade.